Para que serve a história

A que serve a História? Entre conjecturas e elucubrações

HistQuantas vezes nos deparamos com a seguinte questão: para que serve a História? A pergunta costuma acompanhar os historiadores desde o primeiro dia de graduação, mas é difícil acharmos alguém que se arrisque a responder a pergunta mais clichê dos historiadores, mesmo após anos de ofício.
Certa vez buscando esta tão temerária resposta eu encontrei um texto da professora Margareth Rago, no qual vinha uma conhecida frase de Michel Foucault, dizendo que a História teria como serventia libertar o sujeito de seu presente, mostrando-o que tudo o que foi, não é mais, e nem o que é continuará sendo. Uma boa resposta eu diria, porém, particularmente eu penso que a resposta seria um pouco mais complexa e talvez bem mais romântica.
No século XVI a História teria outro uso: magistra vitae, era a expressão que adjetivava a função de trazer exemplos do passado para se usar no presente. Um exemplo a ser dado é o de Maquiavel, o autor d’O príncipe fazia uso do que ocorria ao seu redor para melhor formular o caminho através do qual o seu príncipe deveria seguir. Hoje sabemos, ou pensamos saber que a História não pode ser um manual de como se agir no presente.
Marx no XIX, criticando a uma máxima hegeliana, dizia que a História se repetia como tragédia e depois como farsa, Foucault a título de ironia ia além, dizia que nem como farsa e nem como tragédia, qualquer historiador que buscasse tal repetição estaria fadado ao fracasso.
Há algum tempo assistia a uma palestra na qual um historiador, não me lembro do nome, falava acerca da historiografia brasileira e caracterizava os autores que em suas obras cunhavam o processo de “formação” do Brasil: Caio Prado Jr, Raymundo Faoro, Sérgio Buarque, Celso Furtado etc., tais autores escreveram obras que buscavam explicar o Brasil, segundo esse historiador que palestrava, era característica da escrita de tais intérpretes um engajamento político, não político em sentido partidário ou ideológico, mas político na forma, e sublinhou muito bem a palavra “forma”. Esses autores escreveram obras com grandes recortes, coisa que hoje não é mais comum. A história se profissionalizou e se tornou “científica”, o dito “rigor” metodológico rompeu com qualquer vínculo que fizesse com que o passado servisse como fonte para explicações para o presente ou de prognóstico para o futuro.
E hoje ainda nos perguntamos pra que serve a História? Podemos dizer que pra nada, ou podemos cair na armadilha “positivista” de Hayden White e rebaixarmos a História a uma narrativa pura, e simplesmente sem um mínimo de concretude, mas que Historiador desenvolve sua pesquisa sem ao menos acreditar que o que ele escreve é de certa forma um resquício do passado? E que alguma serventia no presente deve existir? Eu, pelo menos advogo a “veracidade” das hipóteses que levanto, do contrário não teria nenhum sentido escrevê-las. A verdade é que a História se tornou palco de disputas acadêmicas, não que isso seja totalmente negativo. Mas escrever só para os pares é um tanto quanto vazio e a pergunta ainda persiste, para que serve a História?
No encontro regional da ANPUH-RJ em 2010, vi um trabalho que achei no mínimo ousado, mas muito interessante, o autor buscava continuidades nos discursos proferidos por deputados do Primeiro Reinado e parlamentares atuais, obviamente que não penso uma História que se repete ou alguma espécie de magistra vitae, e nem o autor deste trabalho faria isso, mas acredito que a história pode servir ao presente, pode dialogar com o presente, para mostrar rupturas e continuidades.
Um outro ponto, talvez o caráter legitimador da história tenha sido esquecido, afinal de contas no Brasil, no que concerne a historiografia sempre os mesmos temas são vistos, e o que chega a sala de aula, é a reprodução de uma história em que Minas Gerais só aparece no XVIII, o norte do Brasil desaparece com o fim do ciclo do açúcar, o sul protagoniza os livros durante os farrapos. Rio e São Paulo aparecem quase o tempo todo, mas onde estão as regiões nos outros períodos? Talvez nessa questão encontremos a serventia da História: educar, sobretudo educar e mais que isso legitimar o vínculo de determinado sujeito a um lugar e quem sabe torna-lo minimamente agente crítico de sua própria História.
* Por Glauber Miranda Florindo
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFJR, graduado em História pela Universidade Federal de Viçosa.

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