ESCOLA MÉTODICA


ESCOLA METÓDICA

História como disciplina acadêmica no século XIX.
Conhecida como Escola Metódica, por estabelecer as bases do método de pesquisa na história, foi muitas vezes chamada de positivista.
O projeto de História da Escola Metódica: Os seus princípios fundamentais estão expostos em dois textos-programas:  o manifesto, escrito por Grabriel Monod, para lançar a Revista Histórica em 1876; e o manual de Langlois e Seignobos (1898). 


O projeto de História da Escola Metódica:
A escola metódica quer impor uma investigação científica afastando qualquer especulação filosófica e visando objetividade absoluta no domínio da história; 
pensa atingir os seus fins aplicando técnicas rigorosas respeitante ao inventário de fontes, à crítica dos documentos, à organização das tarefas na profissão.
Os historiadores da escola metódica participam na reforma do ensino superior e ocupam cátedras em novas universidades; dirigem grandes coleções, formulam programas e elaboram as obras de história destinadas aos alunos dos colégios secundários e das escolas primárias.

“A Revista Histórica”
Revista Histórica (1876) : ponto final de uma tradição humanista, prolongamento dos eruditos e herdeiros dos românticos, além de devedores da influência da escola histórica alemã, principalmente no reconhecimento de sua importância na elaboração de instrumentos de pesquisa, crítica de fontes e  publicação de documentos.
Projeto histórico da escola metódica: história disciplina científica, cuja cientificidade é garantida por elementos formais, tais como a presença de fontes e citações, e vinculada ao ensino superior.
RANKE

Matriz conceitual da escola metódica.
Os historiadores da geração de Monod e Lavisse foram estudar na Alemanha, para conhecer a estratégia de organização dos antagonistas. 
Aplica os princípios científicos da escola alemã à historiografia francesa.
Não há nenhuma interdependência entre o sujeito conhecedor - o historiador - e o objeto do conhecimento - o fato histórico.
O historiador escapa a qualquer condicionamento social, o que lhe permite ser imparcial na percepção dos acontecimentos;
RANKE

A relação cognitiva é conforme a um modelo mecanicista. 
O historiador registra o fato histórico de maneira passiva, como o espelho reflete a imagem de um objeto;
A tarefa do historiador consiste em reunir um número suficiente de dados, assente em documentos seguros, a partir destes fatos, e por si só, o registro histórico organiza-se e deixa-se interpretar. 
Qualquer reflexão teórica é inútil ou até mesmo prejudicial pois introduz elementos de especulação. 
A ciência positiva pode atingir a objetividade e conhecer a verdade da história”.
Langlois e Seignobos
Manual de introdução aos estudos históricos (1898).
Regras aplicáveis aos estudos históricos.Charles-Victor Langlois: medievalista.
Charles Seignobos: especialista em história moderna.
A objetividade em História.

Langlois e Seignobos : “a história se faz com documentos escritos. Porque nada substitui os documentos: onde não há documentos não há história”. 
A parte fundamental do método tradicional voltava-se, portanto, para o tratamento das fontes escritas.
Entre o projeto e sua execução existia uma nítida contradição, tanto pelo aspecto ideológico de suas práticas acadêmicas quanto pelo envolvimento direto do grupo na política.

Etapas do método:

Heurística: atividade que consiste em localizar, reunir e classificar as fontes históricas, através da criação de listas, repertórios, inventários, índices remissivos, algumas vezes, publicando os de natureza manuscrita considerados de grande importância. 

Crítica externa dos documentos - dividida em três etapas:

erudição ou autenticidade: avaliar se o documento é verdadeiro ou falso;
restituição ou veracidade: tentativa de restaurar ao documento ao seu estado original;
procedência ou localização: determinar a data, o local, a autoria e a origem.

Crítica interna:
Crítica interna ou veracidade dos testemunhos –duas etapas:

hermenêutica: interpretação, que consiste em apreender o conteúdo exato e o sentido de um texto, partindo de um conhecimento aprofundado da língua da época e das convenções culturais vigentes no período de sua composição (modas intelectuais, etiquetas, fórmulas de cortesia, estilos, etc). 

crítica de sinceridade: consiste em avaliar se são confiáveis as informações contidas no texto, sendo complementada pela crítica de exatidão, que restabelece o grau de conhecimento direto efetivo que poderia ou não ter o autor, segundo sua posição em relação aos fatos que enuncia. A forma de proceder é a comparação sistemática de todos os testemunhos disponíveis para cada fato, dado ou processo.

Etapa final

Operações sintéticas que se dividem em cinco fases: 
Comparar os vários documentos para estabelecer um fato particular
Reagrupar os atos isolados em quadros gerais (clima, economia, famílias, profissão, agricultura)
Manejar o raciocínio, quer por dedução, quer por analogia, para ligar os fatos entre si e para preencher as lacunas da documentação
Seleção de fatos relevantes na massa de acontecimentos disponíveis ao historiador a partir dos documentos.

Etapa final

Tentativa de algumas generalizações, algumas interpretações, sem manter a ilusão de “penetrar no mistério da origem das sociedades”. 
Tudo se passa como se, ao nível da síntese, a escola metódica tivesse medo de terminar.

Lavisse e a história da França
1890: Ernest Lavisse
Reconstituição do passado nacional.
Coleção monumental, em nove tomos e dezessete volumes.
Manuais escolares: o mais célebre foi o “Petit Lavisse” (1884).

ESCOLA METÓDICA E ESCOLA DOS ANNALES

Dente algumas das escolas historiográficas estão a Escola Metódica e a Escola dos Annales. As duas, de certo modo, foram antagonistas ao utilizar documentos e métodos distintos para analisar e escrever história.

A Escola Metódica francesa surgiu em um período onde as ciências humanas jaziam passando por um colapso, onde elas não poderiam ser testadas empiricamente. Leopold Von Ranke foi quem que ajudou a difundir os ideais da escola metódica. Nela passa-se aos estudos com base nas análises documentos oficiais, já que possuíam um caráter empírico muito forte e tinha uma estrutura diplomática militar muito forte e tinham uma estrutura diplomática e militar, assegurando assim sua validade cientifica. 

Em 1876, a fundação de A Revista Histórica, por G. Monod e G. Fagniez, marca a constituição de uma escola histórica de acolher todos os trabalhadores sérios no âmbito de um certo ecletismo ideológico.

Seus princípios fundamentais estão expostos em dois textos-programas: o manifesto escrito por G, Monod, para lançar a Revista Histórica em 1876; e o guia redigido em intenção dos estudantes por Ch.- V.Langlois e Ch. Seignobos em 1898. A escola usa métodos deinvestigação científica afastando qualquer especulação filosófica e visando a objetividade absoluta no domínio da história. Usa-se a Heurística, que corresponderia à tarefa primordial do historiador, ou seja, reunir, classificar e proteger os documentos; a Crítica de erudição ou crítica externa, onde se busca saber sobre a autenticidade do documento, se ele foi bem conservado se é verídico e bate com os fatos históricos; Hermenêutica, que era a análise minuciosa dos textos, tanto quando da linguística quanto histórica; Operações Sintéticas, onde aglomera-se vários documentos para falar de um único evento histórico, para ter várias visões históricas de um mesmo evento histórico; e a Dedução, que é usada para preencher lacunas deixados pelos documentos históricos.

Assim o historiador deveria retirar do documento toda sua veracidade sem argumentar os fatos ou se posicionar contra ao que encontrava, pois assim ele mergulharia o documento em torno de uma camada de subjetividade. A responsabilidade do historiador era pegar as informações do documento e relatar numa ordem cronológica, então a história iria obter a mesma característica que as ciências naturais possuem a objetividade. Acredibilidade da escola metódica teve um declínio após a primeira guerra mundial, a percepção de que a ciência levava o homem ao desenvolvimento sofreu um forte impacto após verem a capacidade destrutiva que a ciência havia criado. Com a confiabilidade perdida pela escola metódica, outra forma de historiografia surge para derrubar os ideais metódicos, essa nova forma de se escrever história é conhecida como escola dos Annales.

A Escola dos Annales surgiu com a criação da Revista dos Annales em janeiro de em janeiro de 1929, que coincidiu com a quebra da bolça de valores de Wall Street que ocorreu em outubro do mesmo ano, colaborando como sucesso da revista. Criada por Marc Bloch e Lucien Febvre, a revista tem como tema a história e econômica e social da época e nasce num momento onde a economia torna-se o aspecto da sociedade dos anos 20 e 30. 

O movimento dos Annales, em sua primeira geração, contou com dois líderes: Lucien Febvre, um especialista no século XVI, e o medievalista Marc Bloch. Passaram a dar uma importância e a valorizar as mentalidades, o cotidiano, a arte, os afazeres do povo e a psicologia social, e tornaram fundamentais esses elementos para melhorentendimento das modificações vivenciadas pelos homens e seu meio. 

Em sua segunda geração está Fernand Braudel que assume o lugar de Febvre na Revista dos Analles e tornou-se o mais importante historiador francês e o mais poderoso também ao reunir jovens como Jacques Le Goff, com o intuito de renovar a escola dos Annales. As bolsas de estudo concedidas a jovens historiadores estrangeiros, como os poloneses, para estudar em Paris ajudaram a difundir no exterior o novo estilo francês, de fazer história. E é com Braudel que surge a história quantitativa onde se estudava tendo como base os números, as quantidades.

O que temos em comum nessas duas gerações é o estudo da sociedade sem passar pela nação, com a anulação da identidade nacional como firma organizadora do discurso histórico. Para fugir do estudo das nações estuda-se os fenômenos em seus mínimos detalhes como, por exemplo, os fenômenos religiosos, sexuais e de troca-comércio. Como fonte a serem usadas no estudo, usava-se qualquer coisa, qualquer conjunto de fontes que ajudem no estudo das sociedades. Isso é feito pois deixa-se de ser estudado fontes documentais pertencente ao Estado, para evitar estudos que gerassem oufizessem apologia ao sentimento de nação. A Europa havia acabado de passar por épocas onde o nazismo e o fascismo se fizeram presentes gerando grande influencia populacional, tudo isspo por meio da perpetuação do sentimento de pertencer a uma nação, e através querer submeter uma nação a outra. É como se os historiadores da revista dos Annales quisessem a apagar todos os desastres causados pelo forte sentimento nacionalista. Então, à partir disso, é estudado a ação humana “sem envolver países”. O estado de dependência para com o Nono Mundo revitalizou a mensagem universal dos europeus e mudam a direção também do discurso do historiador, no sentido de separar o euro centrismo, no sentido de levar em consideração os destinos no plural e as civilizações múltiplas.

Tanto quando a Escola Metódica, quando a Escola dos Annales, apesar de possuem modos diferentes de se pensar e escrever história, veem o estudo da história como ciência que tem como principal objeto de estudo o passado. Cada uma tem sua importância para a compreensão na evolução do ato de se construir história e surgiram da necessidade de criar novas formas de pensamento de acordo com cada escola historiográfica.


TEXTO 04:
A ESCOLA METÓDICA,
DITA “POSITIVISTA”
JOSÉ CARLOS REIS

A ESCOLA METÓDICA, DITA “POSITIVISTA”
• ENTENDENDO RANKE
§

Leopold von Ranke (1795-1886) e Hegel (1770-1831)

§

Pontos fundamentais da história científica alemã do século XIX

-

história política para uma filosofia da história
o papel central do Estado
o apego aos grandes espíritos
a história é, para Ranke, o estudo das ações individuais dos grandes homens que representam os demais e o próprio gênio
humano, portanto, o Espírito, ao qual reportava Hegel para defender um unidade e histórica, uma filosofia da história
- para Ranke, essa unidade só poderia ser encontrada na narrativa histórica, que propiciava a conexão interna das ações
individuais, que só pediam ser compreendidas a partir dos documentos escritos oficiais que as comprovavam.
- portanto, não obstante o apego ao método é à objetividade, essa historiografia possuía fina sintonia com a filosofia da
história, pois acreditava num lógica histórica universal, representada na ação dos grandes homens.
a) história é igual a passado, e a historiografia deve ser a escrita do que realmente se passou;
b) separação entre sujeito e objeto – neutralidade;
c) a realidade possui existência real em si,e os documentos são via segura para se chegar a essa realidade;
d) tarefa do historiador: reunir e organizar realidades contidas no documento;
e) após a crítica aos documento (verificação de sua autenticidade e decifração direta de sua mensagem), a narrativa
cronológica organizara uma informação sem reflexão teórica, sem margem para o subjetivo;
f) história-ciência: atinge a objetividade e conhece a verdade histórica.

§ Questões histórico-sociais

- o fetiche da neutralidade e da objetividade não impediu que os membros dessa historiografia não tivessem posição política
bastante clara: eram contra o socialismo a crítica social.


A ESCOLA METÓDICA, DITA “POSITIVISTA”
• ENTENDENDO A ESCOLA HISTÓRICA CIENTÍFICA FRANCESA
§ História científica francesa, o iluminismo progressista e Augusto Comte (1798-1857)
- se Ranke esconde Hegel, a historiografia francesa científica do XIX, baseada na alemã, será iluminista, positivista e
evolucionista;
- o papel central do povo-nação e dos homens à frente do Estado;
- a evolução como um caminho sem volta, progressivo, linear, irreversível, mas que pode ser entendido e controlado
(ordem e progresso);
- por que o tempo seguiria essa premissa, rumando progressivamente para uma sociedademoral, igual e fraterna;
- portanto, sobrevive, apesar do apego e do apelo científico e objetivo, uma profunda filosofia da história baseada numa
determinação prévia que empurrava a humanidade, se não para um estado de Espírito Absoluto, como sustentava Hegel,
mas para uma sociedade global positiva e progressista, conseguida pela manutenção da ordem e da harmonia da jornada
humana, jornada cuja história contribuiria como registro dos passos da jornada humana.
§ O método
- os dois principais veículos para a escola histórica científica francesa foram a Révue Historique e o manual de método
histórico Introduction aux études historiques, de Charles Langlois (1863-1929) e Charles Seignobos (1854-1942)
- objetivo geral do manual:

Propomo-nos a examinar as condições e os procedimentos e indicar o caráter e os limites do conhecimento histórico.
Como chegamos a saber do passado o que é possível e o que importa saber? O que é um documento? Como tratar os
documentos com vistas à obra histórica? Que são os fatos históricos? E como agrupa-los para construir a obra histórica?
Um ensaio sobre o método das ciências históricas.
(LANGI,OB e SnGNOBOS, 1898, P. VI-VII)


A ESCOLA METÓDICA, DITA “POSITIVISTA”
• ENTENDENDO A ESCOLA HISTÓRICACIENTÍFICA FRANCESA
§ Momentos principais do método da história científica francesa do século XIX
a) a heurística, a pesquisa dos documentos, sua localização;
b) as operações analíticas;
c) as operações sintéticas;
- apoio das ciências auxiliares para a garantia da erudição necessária para a crítica do documento:
epigrafia, paleografia, diplomática, filologia, história literária, arqueologia, numismática, heráldica
§ Principais atitudes da história científica francesa do século XIX
- o apego ao documento (pas de document, pas d‘histire);
- o esforço obsessivo em separar o falso do verdadeiro;
- o medo de se enganar sobre as fontes;
- a dúvida metódica, que muitas vezes se toma sistemática e impede a interpretação;
- o culto do fato histórico, que é dado, "bruto", nos documentos.
§ O projeto da história metódica francesa
- domínio na historiografia até 1945;
- produção das obras monumentais. Ex.: Fustel de Coulanges (1830-1889);
- afastamento da literatura;
- a história se isola das ciências humanas, quer-se livre da filosofia, mas tomada, por determinados a priori subjetivistas não
explicitados.'
- domínio dos equipamentos dp saber histórico: institutos, museus, academias etc.;
- predomínio do evento, do político, e daslideranças.
§ Preferências dos historiadores positivistas
- mantinham-se na superfície dos eventos históricos, cuja “profundidade” consideravam incognoscível;
- çonsideravam o fato histórico como um dado objetivo, que seria suficiente extrair dos documentos criticados e reconstituídos;
- passivo, o historiador "fotografaria” ou "gravaria" os grandes eventos políticos e desprezaria as outras dimensões do social;


A ESCOLA METÓDICA, DITA “POSITIVISTA”
• O POSITIVISMO CHEGOU A SER POSITIVISTA?
§ história positiva e não positivista – positivismo comteano como termo guarda-chuva para
“historicizante”, “metódico”, “cientificista”.
§ O que seria esse apego ao “positivo”, incluindo os remanescentes desse tipo de
historiografia do XIX
a) tem como “modelo de conhecimento objetivo” as ciências naturais;
b) o ideal de conhecimento verdadeiro é o objetivo, a extração do fato “em si”, guardado no documento;
c) rigor na crítica contextual como herança para toda a historiografia.
§ A ciência histórica do século XIX conseguiu a distância sonhada da filosofia da história?
- na aparência, sim. Mas o rigor do método, o objetivismo sonhado das ciências naturais e a evasão do eu,
apenas mascaravam tendências políticas e projetos para a sociedade.

Comentários

  1. Excelente texto, me ajudou muito!!!

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  2. Muito bom o texto. Conciso, coeso e esclarecedor. Depois para adentrar nos textos teóricos, é interessante, que faça a leitura deste artigo antes. Ele dá um norte, na linhagem do do seu pensamento, levando á compreensão das vertentes da escrita da História.

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  3. Alguém sabe quais são as definições de estado-nação no contexto francês, da escola metódica??

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    1. Leia o artigo da infopédia: https://www.infopedia.pt/$estado-nacao

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  4. O texto é bom, gostei, mas se tivesse referências e/ou bibliografia daria para utilizar em trabalhos acadêmicos. Parabéns pela iniciativa!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Escola Metódica = Alemanha
    Escola Dos Annales = França

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