REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917
REVOLUÇÃO
RUSSA DE 1917
Em 1894, subiu ao trono russo o
czar Nicolau II. Desde o século XVI, o país era uma monarquia absolutista. A
nobreza era proprietária de 25% das terras cultiváveis do país, e a grande
maioria da população - mais de 80% - estava ligada direta ou indiretamente à
terra. As condições de vida da maior parte dos camponeses eram péssimas. Em
geral, eles habitavam moradia precária e sem ventilação. Alimentavam-se
basicamente de pão preto, batata e torta de farinha de milho. Nas aldeias
raramente havia escolas, e a maior parte da população era analfabeta. No
plantio e na colheita eram usados instrumentos agrícolas antigos, como o arado
de madeira e a foice. Apenas em algumas grandes propriedades adotava-se uma
tecnologia moderna, que permitia o aumento da população.Nas cidades, a vida não
era muito diferente da do campo. Em 1838, uma investigação feita pelo Conselho
Municipal de Moscou, abrangendo milhares de casas dessa cidade, mostrou que
grande parte da população vivia em péssimas habitações. Com uma economia
essencialmente agrária, a Rússia tinha poucas indústrias; a maior parte dela
pertencia a proprietários estrangeiros, principalmente franceses, ingleses,
alemães e belgas.
UM
CLIMA EXPLOSIVO
Os problemas internos da Rússia se
agravaram ainda mais após a guerra Russo-Japonesa (1904-1905). A origem do
conflito foi a disputa entre os dois países por territórios na China e por
áreas de influência no continente. A derrota ante os japoneses mergulhou a
Rússia numa grave crise econômica e aumentou o descontentamento de diferentes
grupos sociais com o czar Nicolau II. Começaram a ocorrer greves e movimentos
reivindicatórios, duramente reprimidos pela polícia czarista. Num domingo de
janeiro de 1905, trabalhadores de São Petersburgo, então capital do Império
Russo, organizaram uma manifestação para entregar a Nicolau II um documento em
que reivindicavam melhores condições de vida e melhores salários. Uma multidão
de cerca de 200 mil pessoas, entre elas crianças e mulheres, dirigiu-se ao Palácio
de Inverno, residência do czar. As tropas do governo, que estavam de prontidão,
receberam os manifestantes com tiros de fuzil.O incidente, que ficou conhecido
como Domingo sangrento, provocou conflitos em toda a Rússia. Tentando diminuir
as tensões sociais, o czar criou a Duma, espécie de Parlamento. Contudo, os
deputados eleitos das quatro primeiras dumas foram de tal maneira pressionados
pelo czar que pouco puderam fazer.
Esse
ambiente contribuiu para a difusão e a aceitação das idéias socialistas - sobretudo
as elaboradas pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels - entre os movimentos
sociais russos. Assim, essas idéias se tornariam a base da Revolução Russa. Em
1905, surgiram os sovietes de trabalhadores, conselhos que se encarregavam de
coordenar o movimento operário nas fábricas. Os sovietes teriam papel decisivo
na revolução de 1917.
O
INÍCIO DA REVOLUÇÃO
Em agosto de 1914 a Rússia entrou
na Primeira Guerra Mundial contra a Alemanha e a Áustria-Hungria. Nicolau II
acreditava que por meio da guerra pudesse expandir o Império Russo e diminuir a
insatisfação popular.No entanto, o fato acentuou o descontentamento e
precipitou o processo revolucionário. A guerra agravou a situação econômica e
social do país. Os soldados, mal-armados e mal alimentados, foram dizimados em
derrotas sucessivas. Em dois anos e meio de guerra, a Rússia perdeu 4 milhões
de pessoas. Em 1915, o czar Nicolau II decidiu assumir pessoalmente o comando
do Exército, deixando o governo nas mãos de sua esposa, a Imperatriz Alexandra,
e de Rasputin, um monge que agia como conselheiro do czar. Em 1917, a escassez
de alimentos era muito grande e provocou uma série de greves. Em 27 de
fevereiro desse mesmo ano, uma multidão percorreu a capital do Império pedindo
pão e o fim da guerra. Os manifestantes também criticavam o sistema monárquico.
A polícia e o exército, agora ao lado dos manifestantes, não reprimiram o
movimento. Isolado, o czar abdicou, e um governo provisório foi constituído,
chefiado pelo príncipe George Lvov. Esse governo, dominado pela burguesia
russa, decidiu continuar na guerra, com planos de uma grande ofensiva contra a
Áustria-Hungria. A população russa, porém, discordava dessa orientação. O
governo, sem controle de seus exércitos, não tinha forças para impedir as
deserções dos soldados. Havia ainda a constante elevação dos preços dos gêneros
alimentícios, contra a qual o governo nada conseguia fazer. Nesse momento,
grupos revolucionários já desenvolviam intensa atividade nas cidades,
reativando os sovietes de trabalhadores, com o objetivo explícito de tomar o
poder.
A
ofensiva do novo governou contra a Áustria-Hungria fracassou. Isso agravou
ainda mais a situação e provocou uma grande manifestação no dia 17 de julho de
1917, na capital do Império. Era o fim do governo provisório de Lvov,
substituído por Alexander Kerenski. Naquele momento, três grupos e três
diferentes propostas políticas se defrontavam pelo poder:
*
O Partido Democrático Constitucional, partido da burguesia e da nobreza
liberal, favorável à continuação da guerra e ao adiamento de quaisquer
modificações sociais e econômicas.
*
Os bolcheviques - maioria, em russo -, que defendiam o confisco das grandes
propriedades, o controle das indústrias pelos operários e a saída da Rússia da
guerra. Graças ao controle cada vez maior que exerciam sobre os sovietes de
operários e soldados, sua força crescia continuamente. Seus dois principais
líderes eram Vladimir Lenin e Leon Trotski.
*
Os mencheviques - minoria, em russo -, que, embora contrários à guerra, não
admitiam a derrota da Rússia. Divididos internamente e indecisos quanto aos
rumos que o país deveria tomar, foram perdendo importância política.
A
TOMADA DO PODER
A partir de agosto de 1917, os
bolcheviques passaram a dominar os principais sovietes e a preparar a
revolução. No soviete Petrogrado, novo nome de São Petersburgo, foi constituído
o Comitê Militar para a Realização da Revolução. Sob o comando de Trotski, no
dia 25 de outubro, os bolcheviques ocuparam os pontos estratégicos de
Petrogrado e o Palácio do Governo. Kerenski, abandonado por suas tropas, foi
obrigado a fugir. Na manhã do dia seguinte, os sovietes da Rússia, reunidos em
Congresso, confirmavam o triunfo da revolução, confiando o poder a um Conselho
de Comissários do Povo. O Conselho era presidido por Lenin.
As
primeiras medidas do governo revolucionário foram:
*
retirada da Rússia da guerra;
*
supressão das grandes propriedades rurais, confiadas agora à direção de comitês
agrários;
*
controle das fábricas pelos trabalhadores;
*
criação do Exército Vermelho, com a finalidade de defender o socialismo contra
inimigos internos e externos.
Logo
depois, os bolcheviques adotaram o sistema de partido único: Partido Comunista.
A
DEFESA DA REVOLUÇÃO: TROTSKI E O EXÉRCITO VERMELHO
Após a tomada do poder pelos
revolucionários, a Rússia viveu ainda três anos de guerra civil. Nesse
processo, a participação de Leon Trotski, um dos mais importantes líderes da
revolução, foi fundamental. Culto e com grandes capacidades de persuasão,
Trotski comunicava-se bem tanto com operários e camponeses quanto com uma
platéia de intelectuais e diplomatas. Quando irrompeu a guerra civil, a
organização das tropas de defesa, o Exército Vermelho, ficou sob sua
responsabilidade. Em condições extramamente precárias, com o país esgotado,
recém-saído da Primeira Guerra Mundial, Trotski conseguiu formar um exército
forte e eficiente. Com o apoio popular, as tropas revolucionárias enfrentaram o
Exército Branco, composto por antigos oficiais do czar e prisioneiros do
exército austríaco. Além disso, enfrentaram tropas de países europeus, que
temiam que a revolução socialista se espalhasse pelo continente.
A
CONSOLIDAÇÃO DA REVOLUÇÃO RUSSA
Sob
a direção de Lenin e com um plano que ficou conhecido como Nova Política
Econômica (NEP), os bolcheviques deram início à recuperação da economia russa.
Elaborada em 1921, a NEP procurou concentrar os investimentos nos setores mais
importantes da economia. Entre as medidas adotadas encontravam-se:
*
produção de energias e extração de matérias-primas;
*
importação de técnica e de máquinas estrangeiras;
*
organização do comércio e da agricultura em cooperativas;
*
permissão para a volta da iniciativa privada em diversos setores da economia,
como o comércio, a produção agrícola e algumas formas de atividade industrial.
Todos os investimentos tinham o rígido controle do Estado, muitos deles eram
feitos em empresas estatais.
Vários Estados que tinha separado
da Rússia durante a revolução - como a Ucrânia - voltaram a se integrar e
formaram, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), um
Estado federativo composto por quinze repúblicas.
Com
a morte de Lenin, em 1924, Stalin (secretário-geral do Partido Comunista) e
Trotski passaram a disputar o poder. Stalin defendia a idéia de que a União
Soviética deveria construir o socialismo em seu país e só depois tentar levá-lo
a outros países; Trotski achava que a Revolução Socialista deveria ocorrer em
todo o mundo, pois enquanto houvesse países capitalistas, o socialismo não
teria condições de sobreviver isolado. Stalin venceu a disputa. Trotski foi
expulso da URSS. A União Soviética ingressou, então, na fase do planejamento
econômico. Foi a época dos planos qüinqüenais, inaugurada em 1928. Os planos se
sucederam a transformaram a União Soviética numa potência industrial. Contudo,
a violência foi amplamente empregada pelo governo para impor sua política.
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