Introdução à História
O
HOMEM COMO SER HISTÓRICO
O HOMEM É UM SER HISTÓRICO-CULTURAL
“Queremos
ser os poetas de nossa própria vida, e, primeiro, nas menores coisas”.
Nietzsche.
A
história da humanidade nos mostra claramente que a evolução é algo real, contínua
e essencial para atualizar o conhecimento adquirido e para gerar novos saberes,
novas compreensões a respeito das coisas do mundo e do homem em sua
especificidade. A cada nova descoberta, a cada nova pesquisa filosófica,
científica, sociológica ou de qualquer outro segmento, estamos gerando
conhecimentos e potencializando novos arranjos culturais e produtivos. Esses
elementos produzem a história, que retratam o viver humano em sua mais
intrigante complexidade. A pesquisa é feita pelas pessoas com suas experiências,
o conhecimento é produzido por pessoas curiosas em aprender novos conteúdos. Ou
seja, tudo faz parte de um processo no qual o homem e a mulher estão inseridos,
portanto, são sujeitos producentes, que com seus conhecimentos produzem ou
promovem a cultura.
Não
podemos viver à parte de nossa historicidade, porque é ela que nos anima; que
nos orienta e nos mostra quais caminhos trilhamos, além de indicar novos rumos,
formular os próximos desafios, através do pensamento, do livre fluir do pensar
nossas ações futuras. Vivemos pensando sempre no amanhã, será isso uma falha ou
preocupação absurda? Não. Certamente é por estarmos sempre focados, mesmo que
inconscientemente, no futuro, que podemos planejar ações e projetar o rumo de
nossa caminhada. Quando não se pensa no futuro, não possui mais sonhos, não se
busca desafios, não se desenvolve e, como produto desse desalinhamento
existencial, se pode colher a infelicidade, a não auto-realização de seu
projeto de vida. Dessa forma não resta mais nada do que simplesmente sucumbir
em vida e na vida.
Para
produzir é preciso agir, seja qual for o produto, sem ação não se pode existir.
De modo que o Homo sapiens necessita de desafio, precisa do conhecimento sempre
renovado, porque nesse sentido, sua vontade é ilimitada, ele vai sempre querer
mais. É assim que se produz cultura, que se desenvolve o intelecto por meio da
arte, da música, da escrita, da dança, da diversão, do trabalho, da religião,
do ensino, da aprendizagem. O grande filósofo grego de Atenas, Sócrates, em sua
celebre frase “só sei que nada sei”, queria na verdade dizer que diante de todo
seu conhecimento, não sabia tudo e que possuía a humildade suficiente para
aprender cada vez mais, porque ninguém sabe tudo nem é perfeito em sua finitude
existencial.
Aprender
com os erros é uma técnica que somente as pessoas mais inteligentes compreendem
seu real significado, por esse motivo devemos tentar quantas vezes for
necessário para aprimoramos os nossos conhecimentos, sem vergonha nenhuma, haja
vista, que é também pela repetição que poderemos alcançar melhores resultados.
Se ao tentar vier o erro, ótimo. Vamos começar tudo de novo, afinal, o que
interessa é o resultado. A experiência de aprendizado é recheada de percalços,
de tentativas e erros, mas o produto sempre virá, basta acreditar e trabalhar
muito nessa busca.
Como
o homem é um sujeito histórico e cultural, ele precisa conhecer sua realidade
de vida e seus problemas, para esclarecer suas dúvidas e encontrar respostas.
Ele necessita ampliar sua compreensão e reproduzir conhecimentos. O homem e a
mulher precisam aprender a pensar melhor, a refletir sobre suas ações, pois
somente dessa forma poderão alcançar melhores resultados de aprendizagem
significativa e responsável. Sempre que necessário vamos reformar o pensamento,
que é à base de toda e qualquer ação. A força da iniciativa é um marco para o
desenvolvimento pessoal e interpessoal. Acreditar, nos leva ao
sucesso.
Conceito
de História
História
é uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo. A História
analisa os processos históricos, personagens e fatos para poder compreender um
determinado período histórico, cultura
ou civilização.
Objetivos
Um
dos principais objetivos da História é resgatar os aspectos culturais de um
determinado povo ou região para o entendimento do processo de desenvolvimento.
Entender o passado também é importante para a compreensão do presente.
Fontes
O
estudo da História foi dividido em dois períodos: a Pré-História (antes do
surgimento da escrita) e a História (após o surgimento da
escrita, por volta de 4.000 a.C).
Para analisar a Pré-História, os historiadores e arqueólogos analisam fontes
materiais (ossos, ferramentas, vasos de cerâmica, objetos de pedra e fósseis) e
artísticas (arte rupestre, esculturas, adornos).
Já o estudo da História conta com um conjunto maior de fontes para serem
analisadas pelo historiador. Estas podem ser: livros, roupas, imagens, objetos
materiais, registros orais, documentos, moedas, jornais, gravações, etc.
Ciências auxiliares da História
A
História conta com ciências que auxiliam seu estudo. Entre estas ciências
auxiliares, podemos citar: Antropologia (estuda o fator humano e suas
relações), Paleontologia (estudo dos fósseis),
Heráldica (estudo de brasões e emblemas), Numismática (estudo das moedas e medalhas),
Psicologia (estudo do comportamento
humano), Arqueologia (estudo da cultura material de povos antigos), Paleografia (estudo das escritas antigas)
entre outras.
Periodização da História
Para facilitar o estudo da História ela foi dividida em períodos:
- Idade
Média (História Medieval): de 476 a 1453 (conquista de Constantinopla
pelos turcos otomanos).
- Idade Contemporânea: de 1789 até os dias de hoje.
Outras informações:
- O grego Heródoto, que viveu no século V a.C é
considerado o “pai da História” e primeiro historiador, pois foi o pioneiro na
investigação do passado para obter o conhecido histórico.
- A historiografia é o estudo do registro da História.
-
O historiador é o profissional, com bacharelado em curso de História, que atua
no estudo desta ciência, analisando e produzindo conhecimentos histórico.
Historiografias
A
história, como integrante das ciências humanas, teve no decorrer do tempo que
desenvolver suas metodologias próprias a serem aplicadas no seu estudo. Assim
como em outras ciências, a aplicabilidade da metodologia indicará qual será a
leitura do objeto. No caso da história, o método apontará o ângulo pelo qual
aquela será observada. Pela aplicação do método, a história pode ser entendida
de diversas maneiras ou ângulos: cultura, política, economia e outros.
Foi
nos séculos XIX e XX que o homem começou a ser encarado também como objeto e
não apenas sujeito. Isso fortaleceu as ciências humanas que por demais se
desenvolveram em seus métodos, inclusive a história. O homem começou a ser
visto como produto da história e não apenas produtor desta. Essa pequena
mudança foi possível graças a novas metodologias de estudo da história que possibilitaram
o entendimento histórico a partir de vários prismas.
A
questão do método é muito extensa. Por isso, serão apresentadas somente as
principais correntes historiográficas que servem como método na produção
histórica, a saber: Positivismo, Escola dos “Annales e Marxismo.
Positivismo
A
conhecida História Tradicional é identificada como historiografia positivista.
Os historiadores tradicionais tiveram muita influência de Comte. No caso, o
historiador positivista trabalha sobre a base de que a história é o fato
propriamente dito, empirismo. Isso significa que só se constrói história a
partir de documentos. Não os havendo, não há história, pois não há comprovação
de fatos. Augusto Comte acreditava que as ciências deveriam se estribar em
fontes empíricas, portanto, na história positivista o documento é o objeto
principal de análise.
Há
uma supervalorização do fato: História Fática. A história se resume naquilo que
se pode perceber e observar, não sendo permitido abstrações. Como a filosofia
positivista procura valorar o homem como indivíduo ímpar, não há uma
preocupação historiográfica com o coletivo, as massas populares, e sim com os
heróis e homens que produzem os fatos positivos. Por isso são notáveis os
acentos nas histórias política, militar e diplomática. Os historiadores
positivistas seguem as seqüências cronológicas dos fatos, tendo o homem como
sujeito de transformação e nunca objeto.
Para
os historiadores tradicionais ou positivistas, os métodos utilizados pelas
ciências naturais deveriam ser os mesmos aplicados às ciências humanas. Dessa
maneira, crêem que a história pode ter uma interpretação científica dos fatos,
sendo “verdadeira” e isenta de abstrações.
A
história, como epistemologia, ocupa um papel secundário no Positivismo, sendo
sua responsabilidade apenas descrever os fatos. O desenvolvimento da sociedade
jamais é visto correlacionado a fatos, isto é, a história.
O
método positivista de historiografar é totalmente sistemático.
Marxismo
A
historiografia marxista é um pouco anterior a Escola dos “Annales”.
Não
se pode confundir historiografia marxista com comunismo, socialismo, luta de
classe e outros conceitos que também fazem parte do Marxismo. Este é um quadro
de idéias muito complexo, pois envolve filosofia, direito, política, sociologia,
economia, história e outras ciências.
Karl
Marx tinha formação religiosa judaica e luterana. Estudou história, filosofia e
direito nas Universidades de Bonn e Berlim, tendo obtido o grau de doutor em
Jena. Quando estava em Berlim foi influenciado pelo pensamento hegeliano
(filosofia em voga na época, século XIX), se aproximando da ala esquerda de tal
filosofia. Na mesma universidade estudou problemas sociais e políticos.
Uma
faísca do pensamento de Hegel é sua dialética. Essa afirma que o homem e
sociedade vivem em constante modificação; dentro de seu esquema: tese, antítese
e síntese. Marx foi influenciado pela dialética de Hegel, porém a modificou
para explicar suas teorias políticas e econômicas.
Também
o filósofo Feuerbach contribuiu para pensamento marxista. Ele defendia um
materialismo, no qual o mundo gira em torno da natureza – um ataque na época à
religião, principalmente a que pregava a necessidade de experiências e uma
volta à religiosidade, através do liberalismo teológico-protestante, na
Alemanha. Contudo, o materialismo proposto por Marx e Engels diferencia-se do
feuerbachiano, pois essa teoria também deveria se encaixar num pensamento
voltado para a leitura da sociedade da época.
Juntando
as duas teorias, dialética e materialismo, Marx formou o Materialismo Dialético
ou Histórico, no qual as lutas de classes e os fatores econômicos (materiais)
determinam o legado da história, ou seja, Marx pensava que as condições
econômicas regulamentam e determinam o curso da história. É nesses princípios
que a historiografia marxista se baseia.
Pelas
obras de Karl Marx nota-se como ele dava importância à questão econômica na
formação da sociedade dentro da história – em 1844 escreveu Economia Política e
Filosofia; em 1850 As lutas das classes em França onde a questão econômica é
enfática; em 1857 Os Princípios da Economia; em 1859 A crítica da economia
política; em 1867 publica o primeiro volume do Capital. Além dessas obras, Marx
escreveu para os jornais New York Tribune, Nenue Oder Peitung e outros.
Karl
Marx entendia que as relações jurídicas protegem a propriedade e devem ser
compreendidas dentro de condições de existência material. Isso significa que a
economia dominante manipula o direito e a política, dirigindo a história para a
dominação econômica, através de um mecanismo de alienação, no qual o operário é
objeto de lucro para as classes dominantes. Para demonstrar a hegemonia da
economia nas relações humanas e sociais, Marx usou a própria história. Na Idade
Média, por exemplo, o domínio senhorial, o sistema de trabalho gratuito, o
recebimento das taxas e das “banalidades”, os estatutos dos camponeses, a
organização das comunidades aldeãs, as repartições de terras, o domínio do
clero e outras questões são observadas levando em consideração a exploração do
campesinato em função da riqueza material das classes dominantes, a saber:
nobreza e clero. Na Idade Moderna, o surgimento da industrialização, a
propriedade dos capitais, a divisão de pessoal, os investimentos, as oficinas,
a situação dos operários, os sindicatos, a relação trabalhadores e oferta de
emprego e outras questões também salientam a economia como motor propulsor da
história.
Na
teoria marxista, o materialismo histórico pretende explicar a história das
sociedades humanas através dos fatos materiais, essencialmente econômicos. Para
embasar ainda mais seu pensamento, Marx encaixou as forças produtivas e as
relações de produção como infra-estrutura econômica de uma sociedade. Sobre ela
se apóia uma superestrutura que atua no consciente social. Para explicar isso,
Marx faz uma analogia, comparando a sociedade a um edifício, no qual as
fundações, chamadas de infra-estrutura, seriam representadas pelas forças
econômicas. Já o edifício em si, foi chamado de superestrutura, o que representa
as idéias, costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas, etc) e
formas do Estado.
Para
demonstrar isso Marx também usou a história. A organização das sociedades se
estriba sobre o seguinte esquema: há as forças produtivas dentre as quais estão
as atividades econômicas e as instituições políticas que dão formatos aos
discursos ideológicos. O modo de produção da vida material condiciona o
processo de vida social, política e intelectual em geral.
O
pensamento de Marx influencia também a historiografia no que concerne ainda a
sociologia das classes, em que se destaca as lutas de classes, e o conceito de
ideologia, no qual até a religião é instrumento de alienação das massas para o
domínio político-econômico.
Resumindo,
uma historiografia marxista afirma que são as condições econômicas as
responsáveis pela regulamentação e determinação do curso da história. Um
historiador marxista enfatiza a economia na construção da história. Assim
sendo, a história não são apenas fatos documentais, como afirmava Augusto
Comte, mas ela é construída ideologicamente para o benefício econômico de
classes específicas. Marx destaca a história das sociedades como a história de
lutas de classes (Manifesto Comunista), que ocorre entre classes dominadas e
dominantes dentro do âmbito econômico. Por isso a economia é destacada por Marx
como a responsável pelas mudanças históricas, merecendo foco nas análises. Em
seus escritos, ele procurou identificar dentro da história o papel
transformador da economia dentro das sociedades.
O
modo de exploração feudal ou corporativo da indústria existente até então não
mais atendia às necessidades que aumentavam com o crescimento dos novos
mercados. A manufatura tomou seu lugar. Os mestres-artesãos foram suplantados
pela pequena burguesia industrial. [...] Os mercados, no entanto, continuavam a
crescer e continuavam a aumentar as necessidades. A própria manufatura
tornou-se insuficiente. Em conseqüência, o vapor e a maquinaria revolucionaram
a produção industrial. (MARX, Karl. O Capital. 2.ed. São Paulo: Edições
Cultura, 1946. V.3. p.46)
A
historiografia marxista influenciou muito a história em todo mundo, desviando o
foco da proposta positivista. No Brasil destacam-se Caio Prado júnior, Celso
Furtado, Leôncio Basbaum, Jacob Gorender, Florestan Fernandes, Edgar Carone,
Boris Fausto, Maria Yeda Linhares, Nelson Werneck Sodré e outros, que também
deram ênfase ao quadro econômico, como fator de desenvolvimento da história.
Escola dos
“Annales”
A
Escola dos “Annales” surgiu em oposição principalmente a “escola positivista”,
historiografia tradicional, na França no século XX, mais precisamente em 1920.
A Escola dos “Annales” foi uma inovação da historiografia, pois não propõe que
o estudo da história seja minimizado ao acontecimento propriamente dito, ao
fato, como o Positivismo, e volta sua atenção para a história em sua longa
duração, a vida política, economia, organização social, cotidiano, psicologia,
além da aproximação com as outras ciências humanas. Essa proposta trouxe a
história para mais perto da geografia, antropologia, sociologia, psicologia,
filosofia e outras gnosiologias.
As
orientações básicas da Escola dos “Annales” foram formuladas principalmente por
Lucien febvre e Marc Block, mas houve contribuições significativas de Fernand Braudel,
P. Coubert, Le Roy Ladurie, Furet e outros. Esses dois últimos designaram a
nouvelle histoire (“nova história”) como a história elaborada a partir e sob a
influência das ciências sociais. Os novos historiadores aceitaram críticas
feitas por sociólogos durkheimianos e da Revue de Synthèse Historique que
queriam uma renovação no estudo da história, aproximando-a das ciências sociais
para que também pudesse se tornar uma ciência social.
Essa
proposta por parte de sociólogos principalmente, trouxe conflito entre
historiadores novos e tradicionais, que controlavam as instituições de ensino,
edição e administração da história e pesquisa na França.
Em
1929 Lucien febvre e Marc Block fundaram a revista de história intitulada
Annales d’Histoire Economique et Sociale na França. Era o nascimento da Escola
dos “Annales”.
Nos
anos de 1950 e 1960 os historiadores da Escola dos “Annales” produziram
materiais voltados à geografia histórica, à história econômica e à demografia
histórica. Já na década de 1970 os historiadores que defendiam essa
historiografia difundiram a história das mentalidades. A nova historiografia
queria mesmo era eliminar o sentimento de especialidade dos historiadores,
promovendo a pluridisciplinaridade e a união das ciências humanas.
O
espírito dos Annales influenciou historiadores por todo o mundo, principalmente
Europa Ocidental, Estados Unidos e América Latina.
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